domingo, 4 de julho de 2010

Referências:

GRUPO DE RESTAURAÇÃO E RENOVAÇÃO ARQUITETÔNICA E URBANA. Plano urbanístico de São Cristóvão – vol. 2. Salvador: UFBA, 1980.
Créditos das fotos:
a primeira - "olhares fotografia online"
a segunda foto - "limoeirodonorte.blogspot.com"

São Cristovão: mudança da capital e decadência

O intuito desse texto é tentar entender algumas razões da decadência de São Cristovão. O período de destaque vai ser em 1885, época em que esta cidade perde o “trono” de capital para Aracaju. Algumas fontes tentam analisar o declínio de São Cristovão com o fator da mudança da capital, pois esta perdeu a supremacia política, administrativa, econômica e social.

Antes de adentramos no epicentro da decadência da “quarta cidade mais antiga do Brasil”, nós precisamos ver como ela é constituída. Começamos em 1850, em que houve um provável crescimento principalmente na Cidade Baixa. Esta última região vai circundar toda a Cidade Alta (o pólo das elites e das irmandades religiosas), crescendo assim, em suas margens, aonde ia morar a população “pobre”.

Essas duas regiões (a alta e a baixa) vão crescer e ter grande movimentação de pessoas. Sendo assim, a relevância de agora era unir, através de melhorias de calçadas e ladeiras, essas duas regiões. Para tanto, as melhorias foram, por exemplo: a ladeira de São Miguel, Ladeira do Açougue, a ladeira do Brum-burum, etc. O penúltimo exemplo citado era uma construção que ligava a Praça da Matriz ao Açougue e ao Mercado. Além dessas, nós vamos encontrar um melhoria nos pontos de embarque e desembarque fluviais.

A fase de grande desenvolvimento de São Cristovão (1850) terá como contraste o período de 1855. É a partir daí até 1915, que a antiga capital de Sergipe vai sofrer duros estágios decadentes. Em 1855 acontece algo incrível, a mudança da capital de S. Cristovão para Aracaju. Parecia algo impossível, pois saiu de um lugar constituído para uma zona de “mata e mangues e cheias de lagoas”. As principais razões foram o aspecto geográfico e principalmente, a aspecto econômico: a construção de um porto e o posterior escoamento da produção. Mas nos limitamos nessas razões!

A mudança ocorre pacificamente? E será que São Cristovão era decadente? E as razões apresentadas eram confiáveis ou coisa da cabeça das elites? E por que chegou a tanto? São perguntas que tem várias respostas. Existem versões “antigas” e “atuais” que anseiam explicar (na verdade, é mais um debate!) as perguntas feitas aqui.

Vamos ver algumas visões de certas pessoas. Temos aí o ponto e o contraponto. No primeiro lado encontra-se Inácio Joaquim Barbosa e o jornal Correio Sergipense. Eles dizem que,




Longe de ser ele [S. Cristovão] um grande povoado, é uma das mais pequenas cidades da Província, acrescendo que diferente dos demais centros de população da mesma província, o seu aspecto só revela decadência e miséria. (Inácio Barbosa, em 19 de março de 1855)




Ruas sem calcamentos estreitas, tortuosas, cidade sem chafariz ou fonte pública […]. (Correio Sergipense, em edições de 19 de abril e 19 de março de 1855).

Nessas citações vemos claramente, segundo essas fontes, a situação dessa cidade: “cidade pequena”, “decadente e miséria”, “ruas estreitas e tortuosas”. São predicados negativos e que merecem um contraponto. Este será Felisbelo Freire que afirma que isso é um exagero, ou seja, S. Cristovão não chegara a tanto. Ele se faz perguntas: como São Cristovão era pequeno? E, será que tem pouca população?

Felisbelo Freire e outros dizem que a culpa era dos governantes que não se preocupavam em promover melhorias nessa cidade. E se esta ficou decadente, se deu também devido aos poucos investimentos que, em outrora, o dinheiro iria para a construção de Aracaju.

Acrescentando mais uma visão, a de Dom Pedro II, nós podemos ter uma noção mais apurada sobre a “cidade decadente”. Em 1860, o senhor Imperador visitou a parte norte do Brasil, estando também aqui em Sergipe. Nas suas anotações encontramos - aqui resumida - o seguinte: 1. Igreja Matriz é sofrível. 2. As outras igrejas são pequenas 3. O depósito de material bélico é inútil. 4. O quartel-cadeia estava superlotado. 5. O Palácio (onde na época estava a Câmara) é sofrível. 6. As ruas e as calçadas são péssimas. 6. O Cemitério estava bem situado, porém é sofrível.

São características negativas e que demonstram a visão dele, do Imperador. Talvez não chegasse a tanto, por exemplo, o cemitério começou a ser construído em 1855 e inaugurado em 1859. Atente-se para a data de visita do imperador: em 1860. Um ano após, e dizer que o cemitério é sofrível, é um pouco demais.

Apresentadas as visões, agora cabe ao leitor definir o seu ponto de vista. O texto apresentado não visa defender um lado, mas apresentar algumas visões. Se São Cristovão não cabia mais na concepção de “cidade moderna”, aí começa outra discussão. Aonde esta se encontra ligada a primeira.